domingo, 3 de maio de 2015

SATYAJIT RAY APRESENTA O SEGUNDO OPUS DA 'TRILOGIA DE APU'

O maior cineasta da Índia é praticamente uma cria de Jean Renoir e do mais genuíno autodidatismo. Mas é no Neorrealismo Italiano que Satyajit Ray se inspira em seus primeiros filmes: A canção da estrada (Pather panchali, 1955) e O invencível (Aparajito, 1957). A ambos se soma O mundo de Apu (Apu sansar, 1959). Os títulos dessa trilogia estão entre os mais sinceros e bem concebidos produtos do cinema mundial. O invencível registra as idas e vindas, encontros e desencontros dos personagens Apu (Pinaki Sengupta/Smaran Ghosal) e sua mãe Sarbojaya (Karuna Bannerjee). A família, inicialmente localizada na cidade sagrada de Benares, retorna ao campo após a trágica morte do pai e esposo Harihar (Kanu Bannerjee). A realização, em grandes linhas, acompanha o crescimento do garoto Apu, principalmente após ter a curiosidade e sede do conhecimento disciplinadas pela escola e atração pela leitura. O processo o leva a Calcutá para conclusão dos estudos, mas custa a separação da mãe. Prisioneira da solidão, reduzida a uma vida destituída de sentido, Sarbojaya falece enquanto alimentava ilusões pela chegada do filho. Contemplativo, descritivo, contido, narrado com elegância, valorizado pelo sincero despojamento de um elenco não profissional, O invencível está entre os mais poderosos manifestos cinematográficos sobre a família em especificidade e universalidade. É uma encenação conduzida por um cineasta inspirado, dominado pelo mais absoluto estado de graça!








O Invencível
Aparajito

Direção:
Satyajit Ray
Produção:
Satyajit Ray
Epic Productions
Índia — 1956
Elenco:
Kamala Adhikari, Lalchand Bannerjee, Kali Bannerjee, Kanu Bannerjee, Karuna Bannerjee, Panchanan Bhattacharya, Debabrata Chakraborty, Harendrakumar Chakravarti, Hemanta Chatterjee, Meenakshi Devi, Subodh Ganguli, Smaran Ghosal, Charuprakash Ghosh, Santi Gupta, Ajay Mitra, Anil Mukherjee, Shibnarayan Nag, Bhaganu Palwan, K. S. Pandey, Saraswati Pandey, Ranibala, Kalicharan Roy, Sudipta Roy, Keya Sengupta, Pinaki Sengupta, Ramani Sengupta, Mani Srimani, Udayshankar Tiwari.




O cineasta Satyajit Ray



O hindu Satyajit Ray está entre os expoentes do cinema. Influenciado por Jean Renoir — do qual foi auxiliar quando este, na Índia, realizou O rio sagrado (The river, 1951) —, tornou-se diretor à base do mais completo autodidatismo. Concretamente, seus interesses mais imediatos na sétima arte datam de 1947, quando fundou em seu país a Film Society[1] ou Sociedade de Filmes de Calcutá. Durante as filmagens de O rio sagrado foi convencido a passar à direção pelo mestre francês. Antes de se lançar nesse propósito, experimentou temporada de aproximados quatro meses na Inglaterra. Nesse período, imergiu em cinema; em filmes do neorrealismo italiano — inspiração decisiva, com nítida marca em seus primeiros trabalhos — e mostras dos principais cineastas da época, notadamente John Ford, do qual, certamente, absorveu lições sobre economia nas tomadas ao olhar acurado acerca das relações dos personagens com o contexto de vida.


Teve estreia consagradora na direção em 1955. A canção da estrada (Pater panchali), primeiro opus da Trilogia de Apu, recebeu prêmios em diversos festivais internacionais. Em parte adaptado do romance de formação de igual nome de Bibhutibhushan Bandopadhyay, publicado em 1929, transformou-se, quase que instantaneamente, num dos grandes feitos do cinema mundial. O feliz título A canção da estrada é também irônico. Estrada remete a movimento. Mas a narrativa está mais apoiada na realidade tomada pela fixidez, feita de cotidianos inalterados. Basicamente, aborda uma estrutura de vida ao acompanhar o repetitivo dia-a-dia preenchido por privações e falta de perspectiva da família Ray em pequena e erma vila rural de Bengala. Enquanto a esposa e mãe Sarbojaya (Karuna Bannerjee) ocupa o front doméstico, submetida às questões básicas da sobrevivência, o marido Harihar (Kanu Bannerjee) passa longos períodos fora, como errante e pouco eficaz pregador brâmane. Sarbojaya é prática e enérgica na atenção dispensada à sobrevivência da família. Para dispor de mais alimentos para os filhos, não titubeia em sacrificar a sogra Indir Thakrun (Chunibala Devi) encurvada pela idade e incapaz de se valer por conta própria. Harihar é sonhador. Vive de planos, mas é incapaz de concretizá-los. Durga (Uma Das Gupta), filha criança do casal, vagueia pela vizinhança colhendo alimentos para a avó e enfrentando existência de pouca perspectiva. O irmão Apu (Subir Bannerjee), cerca de seis anos mais novo, nasce no decorrer da história. Apesar da diferença de idade é companhia preferencial de Durga até a morte desta, tragédia consumada logo após o esperado falecimento de Indir.


A perda da filha seguida de outros tristes eventos leva os Ray a viver na cidade. A mudança encerra a narrativa. Sarbojaya, Harihar e Apu se movimentam pela estrada, em carro de bois, rumo a Benares, às margens sagradas do Ganges.


Dois anos após A canção da estrada, a saga é retomada em O invencível. Terá ponto final em 1959, com O mundo de Apu (Apur sansar). Os títulos, em linhas gerais, tratam da sucessão de raras alegrias e muitas tristezas sempre presentes no ciclo vital de nascimentos, mortes e poucas alterações que conferem sentido à existência. Trata da vida que segue, para todos — dado estrutural de ordem geral, mas experimentado especificamente pelas individualidades.


O invencível recebeu o Leão de Ouro de São Marcos no Festival de Veneza de 1957, quando fez jus a outras láureas: prêmio da FIPRESCI (The International Federation of Film Critics) e o Novo Prêmio Cinema, ambos para Satyajit Ray. Nesse ano também foi agraciado pela FIPRESCI em Londres. Em 1958 venceu nas categorias de Melhor Filme e Melhor Direção o San Francisco International Film Festival, ocasião na qual mereceu outra honraria da FIPRESCI. A seguir, vieram indicações aos prêmios do British Academy of Film and Television Arts (BAFTA) para Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Atriz Estrangeira (Karuna Bannerjee), em 1959. Nesse ano levantou, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, o National Board of Review Award, nos EUA. Em Berlim, 1960, levou o Selznik de Ouro. Dez anos após realizado, prosseguia na vitoriosa carreira: ganhou em 1967, na Dinamarca, o Bodil de Melhor Filme Não Europeu.


O invencível começa em 1920. A família Ray reside em Benares. O lugar pulsa em função dos peregrinos centralizados pelo Rio Ganges. Entre eles, Harihar continua na lida de pregações. Também ministra cuidados em medicina popular aos mais carentes. Apu (Pinaki Sengupta), com aproximados 10 anos, brinca por ruas e becos. Seus olhos curiosos e vivazes praticamente desvendam a geografia física e humana da cidade. A câmera, fixa ou em lentos movimentos, revela Benares em tomadas banhadas por iluminação de forte nitidez. Planos gerais, médios, de conjunto e fechados captam o lento fluir do rio, as escadarias que levam às suas margens, as rotinas de mendigos, peregrinos, lavadeiras e vendedores, além das de Harihar, Apu e Sarbojaya. Esta, na casa instalada em edifício de múltiplas habitações, continua na labuta doméstica, quase sempre envolvida na preparação dos alimentos.



O garoto Apu, vivido por Pinaki Sengupta, nas brincadeiras pela cidade de Benares


Os atores se movem com naturalidade espantosa, como se houvessem nascido para o cinema. São espontâneos em tudo. A mise-en-scène vai pelo mesmo diapasão. Parece operar o milagre da criação, pois o realizador é, ainda, praticamente um iniciante. O invencível é seu segundo exercício na direção.


Os dias passam. As rotinas não se alteram. Cada personagem percorre a existência em acordo aos condicionantes sociais e históricos que os definem, mas como se obedecessem ao dado da mais plena naturalidade. Apu brinca, Harihar prega, Sarbojaya limpa e cozinha. Mas ela é a única que aparenta agir com propósitos mais concretos, plenos de real sentido. Vive inteiramente para os seus, como se tivesse total certeza dos custos e significados das razões de existir. À noite, junto ao marido e filho, passa a impressão de respirar aliviada, após tanto tempo solitária. É quando a fria morada se enche de calor. Apesar de tantas privações, a família é tudo. É o sentido da segurança. Dessa certeza se faz O invencível — saga preenchida pela especificidade de um núcleo familiar e com atenção aos elementos que o consolidam e fragmentam.



Apu (Pinaki Sengupta)

Novamente — como em A canção da estrada — o inevitável se instala. Harihar adoece após penosa jornada de trabalho. Piora com a insistência de comparecer ao Ganges. Febril, delira. Uma revoada de pássaros contra o céu do anoitecer anuncia a morte do pai de Apu. A mãe experimenta as angústias do futuro incerto. Apesar de tudo, permanece em Benares. Emprega-se como cozinheira, com pouco tempo para cuidar do filho. Uma existência sem perspectivas se apresenta ao garoto. Ciente disso, Sarbojaya cede aos apelos da família interiorana. Regressa ao campo, à aldeia bengali de Manspata. O movimento reverso desagrada a Apu, habituado à pulsação urbana. Com certa dificuldade é matriculado na escola local. A partir daí, pode-se afirmar, a história de O invencível começa a ser de fato contada. O menino curioso, aberto ao conhecimento, inicia corrida à vida adulta. Satyajit Ray também impregna a narrativa com dados autobiográficos.


Harihar (Kanu Bannerjee) em seu leito de morte, acompanhado da esposa Sarbojaya (Karuna Bannerjee) e do filho Apu (Pinaki Sengupta)



A imagem do trem cruzando a linha do horizonte — inicialmente apresentada em momento dos mais significativos de A canção da estrada — passa a se fazer constante, como leitmotiv prenunciador do porvir e das incertezas que o acompanham. Morar em Manspata é praticamente retornar às origens, necessário ajuste de contas para devolver aos trilhos o fluxo vital. Mãe e filho prosseguem nos longos ritos fúnebres em honra de Harihar. Essa atividade parece ser a única alteração significativa no cotidiano atravessado pela modorra, não fosse a escola na qual Apu se destaca. É incentivado pelos mestres. Tem a curiosidade disciplinada. Lê em profusão e intensidade. O mundo além dos limites da aldeia se descortina. Aos 16 anos, agora interpretado por Smaran Ghosal, desconfia da pretensão materna de vê-lo pregador, qual o pai.


Apu almeja mais. Insiste nos estudos. Isso significa deixar a aldeia e a mãe. Calcutá se apresenta como destino relativamente facilitado por uma bolsa de estudos. O jovem embarca. Além dos parcos pertences, leva simbolicamente o mundo nas mãos — um pequeno globo terrestre presenteado pela mãe. Mas tudo isso acontece pela dolorosa via da cisão familiar. Sarbojaya tenta compreender a ambição do filho, mas pensa na própria situação. Perdeu Durga, a seguir o marido do qual extraía o status. Agora, o que resta de sua posição e segurança se esvai com a ida do rebento. É triste o paradoxo de vê-la praticamente abandonada depois de toda a vida dedicada aos seus. Porém, o processo é inevitável. A partida dos filhos faz parte do ciclo vital. Ela e Apu se verão cada vez menos. Sarbojaya paga um preço alto. Em Calcutá, instalado em precárias condições, o jovem se desdobra em estudo e trabalho. Sequer consegue constância no fluxo de cartas para a mãe. Solitária e esquecida, adoece.


Mãe e filho de volta ao campo: Sarbojaya (Karuna Bannerjee) e Apu (Pinaki Sengupta)



O invencível é um dos mais vigorosos tratados cinematográficos sobre a família. O drama de Sarbojaya, carregado de silêncios e olhares, é dos mais dolorosos. O falecimento noturno da personagem, no desespero da solidão, ardendo de desejo pela visita do filho, é dos momentos que honram o poder específico de criação do cinema. Sentada diante de casa, delira. Ouve o chamado filial. Força o olhar na escuridão. Mas só percebe o vazio iluminado intermitentemente pelos vagalumes. O trem acabou de passar[2].


O desenlace contém toda a inevitabilidade da tragédia. Apesar de aparentar resignação, uma pontada de mágoa transparece em Sarbojaya. Compreensível. Porém, sabiamente, Satyajit Ray não se aproveita do drama e da tristeza para emitir juízos de valor. A situação é complexa, sabe-se. Qualquer tentativa de maiores explicações e julgamentos seria insuficiente. A encenação se limita a comunicar, cinematograficamente, a existência de um laço entre filho e mãe, apesar da distância a separá-los. Em montagem paralela, Apu e Sarbojaya são mostrados como se estivessem inconscientemente unidos pelas árvores sob cujas sombras tomam assento, ele em Calcutá, imerso nos estudos; ela em Manspata, na inútil espera.


É surpreendente. Mas em seus dois primeiros filmes, principalmente em O invencível, Satyajit Ray já se apresenta como cineasta que cruza as sendas do melodrama sabendo evitar as armadilhas dos largos apelos emotivos. A realização é tocante. Mexe com os sentidos. Mas não encaminha a atenção do espectador para motivos secundários, em momento algum. A sobriedade da direção e a contenção dos atores impedem quedas no sentimentalismo barato e na afetação. Apu, desdobrado por Pinaki Sengupta e Smaran Ghosal, passa de garoto despreocupado ao adolescente cioso de si e do futuro que almeja, mesmo que transmita a sensação de que é presa da alienação decorrente do mais nefasto dos egoísmos. É alguém em permanente estado de mudança, contra o pano de fundo físico e humano no qual predominam elementos estáticos, constantes, estruturadores. A mãe faz parte dessa fixidez. Tanto que, fisicamente, sua constituição permanece praticamente inalterada desde A canção da estrada. Sarbojaya representa segurança e estabilidade. Por sua natureza ou condição não compreende bem a existência como devir a exigir rupturas. Já Apu é o movimento desafiador da realidade à qual a genitora está ajustada.



 Sarbojaya (Karuna Bannerjee)



Por outro lado, em que pese a contradição entre mãe e filho, é o mundo de Sarbojaya que fornece linha e compasso ao desenvolvimento da narrativa. Ela é como uma árvore solidamente fincada ao solo. Sob a copa se movimenta Apu com suas escolhas, sem sobressaltos. O tempo flui manso, mas com leveza, carregado por uma sensação de monotonia pela qual se contemplam os momentos significativos da vida, sublimes e dolorosos. Poucos cineastas são tão meticulosamente descritivos como Satyajit Ray. O invencível é cinema da contemplação feito de pequenos gestos ao ritmo do lento fluir do Ganges ou do trem. O momento de maior pulsação emocional é dado por Apu ao recitar um poema em sala de aula. É quando o cineasta reconhece vigorosamente o valor da educação como meio de superação das condições mais adversas da existência.


Quase adulto, Apu (Smaran Ghosal) chega em Calcutá para se aprofundar nos estudos



A mirada poético-realista de Satyajit Ray está muito próxima da abordagem naturalista. Evidentemente, tal não quer dizer que O invencível seja prisioneiro de algum tipo de atavismo no desenho dos personagens e na moldura que os enquadra. Mas pelo fato de Apu, originalmente concebido pela criação literária de Bibhutibhushan Bandopadhyay, estar, em boa medida, influenciado por aspectos da vida do diretor, algo que ele tão bem conhece. O rapaz — estudante em Calcutá e morador nas dependências da gráfica na qual trabalha — refaz a juventude de Satyajit Ray: quando moço, residia na oficina de impressão do avô, de quem era funcionário. Além disso, toda a narrativa se define por características de autenticidade, sinceridade, beleza — apesar da constante conspiração da adversidade — e do humanismo mais sincero— graças à encenação que destaca os indivíduos como gente digna, possuidora de aspirações e capacidades que aludem às peculiaridades dos seres racionais em seu processo pelo mundo. Essas sensações e emoções são passadas por Apu desde que era o pequeno explorador das redondezas que habitava; estão bem evidenciadas nas comoventes aspirações por melhorias de Harihar; na adequação aos aspectos mais concretos da existência que perpassa o cotidiano de Sarbojaya — a estupenda recriação de Karuna Bannerjee. Para a atriz todos os melhores e mais substantivados adjetivos sempre significarão muito pouco.


Apesar de toda a sua especificidade, a família capitaneada pela mãe de Apu pode ser vista como representativa de suas congêneres naquilo que possuem de mais vital e essencial. Todas são feitas de rupturas e cotidianos abalados pelas escolhas de seus membros; são invadidas pela morte; atravessam-se por questões graves e comezinhas que aludem à sobrevivência. Os Ray fornecem um retrato da universalidade familiar, o que mais uma vez aproxima o filme de sua identidade naturalista.



 Apu criança, interpretado por  Pinaki Sengupta



A exemplo de Satyajit Ray, seus dois principais suportes artísticos — o diretor de fotografia Subrata Mitra e o compositor Ravi Shankar — pouca experiência tinham em seus domínios. Praticamente tiveram iniciação com A canção da estrada. No entanto, o vigor expressivo já é companheiro de ambos no segundo opus da Trilogia de Apu.


As lentes de Mitra conseguem a proeza de ampliar o espaço, mesmo quando posicionadas no interior de cômodos minúsculos. Graças a isso, os personagens também se expandem, inclusive quando flagrados na vastidão dos exteriores, lançando miradas ao longe para o movimento de um trem ou rio. Ou a destacar objetos aparentemente banais, preenchidos de significados quando percebidos e tocados. A cozinha de Sarbojaya está repleta de momentos assim, igualmente os estreitos aposentos de Apu em Calcutá.


Os acordes de Shankar soam naturais e evocativos. São como ampliações sonoras dos próprios ambientes, a partir de cítaras, percussão e, ocasionalmente, da flauta de bambu. Fornecem a pulsação necessária, mais que adequada, à ilustração da marcha existencial.



Apu adulto, interpretado por Smaran Ghosal; ao fundo,  Sarbojaya, vivida por Karuna Bannerjee



Por fim há a cenografia de Bansi Chandragupta, tão reveladora da frieza e pobreza dos recintos ocupados por seres limitados ao básico. É paradoxal. Enquanto Chandragupta comprime, a direção de fotografia de Mitra amplia. Tudo em nome do poder de recriação da realidade a partir do melhor cinema, que não deixa de ser, também, um produto da ilusão.




Apu, representado por Pinaki Sengupta, e o diretor Satyajit Ray durante filmagem em Benares, nas escadarias do Ganges


Roteiro: Satyajit Ray, com base na novela Aparajito, de Bibhutibhushan Bandyopadhyay. Assistente de roteiro: Kanailal Basu. Música: Ravi Shankar. Direção de fotografia (preto e branco): Subrata Mitra. Montagem: Dulal Dutta. Desenho de produção: Bansi Chandragupta. Gerente de produção: Anil Choudhury. Assistente de gerente de produção: Nityananda Datta. Assistentes de direção: Suren Chakraborty, Shailen Dutta, Arup Guhathakurta, Subir Hajra. Assistente da direção de arte: Suresh Chandra Chandra. Decoração: Ramchandra "R. R." Sindhe. Gravação de som: Durgadas Mitra. Assistentes de gravação de som: Bishnu Paridha, Ranajit Singha Roy. Assistentes de câmera: Dinen Gupta, Nimai Roy, Soumendu Roy. Assistentes de montagem: Harinarayan Mukhopadhyay, Tapeshwar Prasad. Músicos: Nirmal Biswas, Basudeb Chakraborty, Dinesh Chandra Chandra, Sarat Das, Sitaram Das, Alok Dey, Robin Majumdar, Kamalesh Mitra, Pratap Narayan Mitra Pratapnarayan Mitra, Radhakanto Nandy, Dakshinamohan Tagore. Assistente de publicidade: Somen Gupta. Supervisão de processamentos fotográficos: R. B. Mehta. Agradecimentos a: Kanailal Bandyopadhyay, Harihar Bhandari, Balaichandra Goswami, Laxminarayan Mohanta. Tempo de exibição: 113 minutos.


(José Eugenio Guimarães, 2014)



[1]  Cf. TULARD, Jean. Dicionário de cinema: os diretores. Porto Alegre: L&PM, 1996. p. 521
[2] As mortes, mesmo as mais dramáticas, são encenadas por Satyajit Ray com contenção e elegância. O falecimento de Harihar é primeiramente antecipado pela elaborada distorção da imagem. Uma lente grande-ângular provoca efeito de desorientação à medida que a câmera avança para o personagem galgando cambaleante as escadarias. Segue-se o desmaio. Quando falece, um gemido conduz a imagem do leito de morte para aves em revoada contra o céu do anoitecer. Já a encenação da morte de Sarbojaya exigiu a recriação do errático esvoaçar dos vagalumes. Membros da equipe completamente trajados de negro balançavam ao léu pequenas e cintilantes fontes de luz enquanto eram filmados contra o fundo escuro.