domingo, 17 de janeiro de 2016

FRANCIS FORD E O OPUS I DA 'FAMIGLIA' QUE O TRANSFORMOU EM DON COPPOLA

A Paramount convenceu o autor Mario Puzzo a transformar uma sinopse com cerca de 20 páginas em livro. O resultado, um alentado best-seller, entrou na linha de adaptações a produzir. De início, nada teria de extraordinário: apenas mais um filme sobre a Máfia, como tantos outros. Os diretores cogitados recusaram a proposta. A condução sobrou para Francis Ford Coppola, roteirista abalizado mas pouco experimentado como realizador. Sequer gozava do respaldo da equipe de filmagem. Porém, teve a coragem de ousar: enfrentou a desconfiança e as sabotagens armadas pelo própria Paramount; impôs o ponto de vista do criador pessoal e determinado. O poderoso chefão (The godfather, 1972) se converteu, desde o lançamento, em realização emblemática. Ajudou a redefinir a estatura adulta do cinema estadunidense contemporâneo. Hoje, é comum encontrá-lo no topo das listas de enquetes acerca dos melhores filmes de todos os tempos. Mais que apresentar um conjunto de rituais sobre a visão de mundo e a conduta da mafiosa família Corleone, é um épico com ares de tragédia e ópera sussurrada. Os personagens são vítimas de variáveis incontroláveis. Também é um tratado sobre os paradoxos do sonho americano. Expõe as contradições de um país ordenado segundo os princípios do liberalismo, mas desafiado por uma organização fundada nas estranhas pouco permeáveis das comunidades tradicionais, avessa ao individualismo e irrigada pela fidelidade canina aos laços de sangue. Marlon Brando, à época relegado ao corner dos decadentes, reergue a carreira com um desempenho magistral no papel do patriarca e capo Don Vito Corleone. A apreciação em tela, escrita em 1975, passou por ajustes em 1988.






O poderoso chefão
The godfather

Direção:
Francis Ford Coppola
Produção:
Albert S. Ruddy
Paramount, Alfran Productions
EUA — 1972
Elenco:
Marlon Brando, Al Pacino, Robert Duvall, James Caan, Richard S. Castellano, Sterling Hayden, John Marley, Richard Conte, Diane Keaton, Al Lettieri, Abe Vigoda, Talia Shire, Gianni Russo, John Cazale, Rudy Bond, Al Martino, Morgana King, Lenny Montana, John Martino, Salvatore Corsitto, Richard Bright, Alex Rocco, Tony Giorgio, Vito Scotti, Tere Livrano, Victor Rendina, Jeannie Linero, Julie Gregg, Ardell Sheridan, Simonetta Stefanelli, Angelo Infanti, Corrado Gaipa, Franco Citti, Saro Urzi e os não creditados Sofia Coppola, Anthony Gounaris, Joe Spinell, Chris Anastasio, Norm Bacchiocchi, Max Brandt, Tybee Brascia, Carmine Coppola, Gian-Carlo Coppola, Italia Coppola, Roman Coppola, Don Costello, Robert Dahdah, Richard Fass, Gray Frederickson, Ron Gilbert, Anthony Gounaris, Joe Lo Grippo, Sonny Grosso, Louis Guss, Merril E. Joels, Randy Jurgensen, Tony King, Peter Lemongello, Tony Lip, Frank Macetta, Lou Martini Jr., Raymond Martino, Joseph Medaglia, Carol Morley, Rick Petrucelli, Joe Petrullo, Burt Richards, Sal Richards, Tom Rosqui, Nino Ruggeri, Frank Sivero, Filomena Spagnuolo, Gabriele Torrei, Nick Vallelonga, Ed Vantura, Ron Veto, Matthew Vlahakis, Conrad Yama.



Marlon Brando, entronizado no personagem de Don Coleone, e o diretor Francis Ford Coppola


Filme, diretor e ator estavam desacreditados. Para a Paramount, Marlon Brando se encontrava, há muito, liquidado para o cinema. Tido como indisciplinado e — àquela altura — desprovido de talento, o intérprete que creditaria Don Corleone entre os emblemáticos personagens da tela não desfrutava de prestígio algum junto à indústria cinematográfica. Enquanto procurava desqualificá-lo, a companhia anunciava Laurence Olivier e Anthony Quinn como os mais cotados para encarnar a emblemática figura do patriarca e capo mafioso moldada pela pena de Mario Puzzo.


Coppola sequer constava entre os nomes cogitados para a direção. Tinha o status de estepe ou regra três. A oportunidade surgiu quando cerca de vinte realizadores, inclusive os renomados Peter Yates, Richard Brooks, Costa-Gavras e Elia Kazan recusaram a tarefa pelos mais diversos motivos.


Com respeito ao filme, a Paramount pretendia apenas uma produção standard, como tantas outras, sobre a ação e os bastidores da Máfia: orçamento pequeno e locações em Saint Louis, no Missouri, para uma trama passada nos contemporâneos anos 70.


Filme pronto e resultado: The godfather cai no gosto do público e de parte da crítica. Os cronistas o elegem como o equivalente de ...E o vento levou (Gone with the wind, 1939), de Victor Fleming, dos filmes de gângster; uma saga de estatura épica que faltava às investidas cinematográficas no submundo da Máfia.


Na França, entretanto, recebeu os mais duros e injustificados ataques: "Tão chato quanto conselho administrativo" (Telerama); "Uma decepção... uma diversão fraca transforma-nos em cúmplices de uma empresa de gangsterismo... nocivo" (L'Express); "Hemoglobina demais" (Le Figaro); "Inexiste crítica social. Ainda nos devem um filme sobre a Máfia" (Le Monde); "O recorde da prostituição" (Le Figaro); "Três horas de ketchup. Está muito longe de Yves Boisset" (Le Noveau Observateur). Os detratores, em geral, acusam Coppola de romancear a organização criminosa. Coitados! Não entenderam nada. Foram passados para trás pela quase sempre conservadora Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Em 1972, The godfather recebeu quatro dos principais oscars: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Ator (Brando recusou o prêmio em protesto contra o tratamento concedido aos índios pelo Governo dos Estados Unidos. Fez-se representar na cerimônia por uma falsa índia ‑ segundo a imprensa ‑ que expôs as razões do gesto).


O diretor Francis Ford Coppola entre os Corleone. A partir da esquerda: Sonny (James Caan), Don Vito (Marlon Brando), Michael (Al Pacino) e Fredo (John Cazale)


A produção de seis milhões de dólares desbanca A noviça rebelde (The sound of music, 1965), de Robert Wise, do posto de maior bilheteria do cinema e desloca para terceiro lugar o lendário ...E o vento levou, por mais de 30 anos o incólume recordista.


Coppola, roteirista de reputação consolidada, consagrou-se definitivamente como diretor dos melhores. Graças ao esforço pessoal e à capacidade de suportar pressões, converteu O poderoso chefão em vigoroso e personalíssimo épico. A realização mira as contradições do espírito formador estadunidense, dentre as quais a onipresença, no seio do país — berço do moderno individualismo — de uma instituição familiar moldada nas entranhas das comunidades tradicionais, que submete os interesses particulares — segundo o credo liberal — às exigências do grupo de sangue e do apadrinhamento. O indivíduo é anulado, com suas prerrogativas, pela força dos laços de lealdade e deferência. Ou como bem definiu Marlon Brando, The godfather é um tratado sobre a mentalidade corporativa; revela um câncer que emana no tecido da cultura liberal.


Descendente de italianos, Coppola certamente sabia, com propriedade, como abordar a Máfia a partir do romance de Mario Puzzo. O filme é uma etnografia dos rituais caros à organização. Mirando as práticas da família Corleone, o diretor promove um ajuste de contas entre o valores arraigados de seus ancestrais e os códigos em vigor na terra que os acolheu na imigração. Apesar de formado na nova geração de cineastas, egressa das universidades, Coppola — em seu arrojo e vontade de experimentação — guarda um pouco do espírito pioneiro dos mestres do cinema estadunidense. É um rebelde ao estilo de Ford, Huston, Hawks e Walsh. Não teme desafiar o sistema para impor modelos narrativos e convicções numa estrutura de ideias cristalizadas, dominada por marasmos e clichês. Consegue permanecer imune aos contrários, sejam chefões da indústria e críticos de plantão —prisioneiros de verdades e paradigmas consolidados, limitados, portanto, por fórmulas viciadas de apreciação, falso-moralismo e suspeito bom-gosto.


Apesar de várias vezes contrariado, Coppola impôs projeto mais ambicioso aos produtores. Conseguiu, com muita manha, guardar fidelidade ao original de Puzzo ao transferir os locais da ação para Nova York, Las Vegas, Hollywood e Sicília enquanto recuava o contexto histórico para os anos 40 e 50. A Paramount dificultou ao máximo a liberdade criativa do realizador. Interferiu no roteiro, tentou impor finais e, contra a própria atividade gerencial, forçou o estouro de cronogramas e orçamentos que delimitou. A equipe técnica também duvidava da tarimba do diretor e implantou clima pouco ameno nos sets.


O adotivo dos Corleone: Tom Hagen (Robert Duvall), advogado e consiglieri


Francis Ford Coppola nasceu em 1939. Formou-se em artes dramáticas pela Universidade de Hofstra, Nova York. Na Universidade de Cinema de Los Angeles conquistou o grau de Mestre em Belas Artes. Seus primeiros exercícios extra-acadêmicos são filmes eróticos curtos, realizados em 1960: Aymon, the terrible; The Pepper; Os amantes do nudismo (Tonight's sure); e The belt girl and the playboy. Mas foi como homem de confiança ou pau-para-toda-obra do lendário Roger Corman que aprendeu as artes do ofício. Na primeira missão para o "diretor mais rápido do mundo" traduziu para o inglês um filme soviético de ficção científica, mesmo desconhecendo por completo a língua russa. Ainda acrescentou tempero "cormaniano" à película de apelos humanista e fraterno, além de inserir monstros de borracha e cenas de sexo para elevar a temperatura da trama, mostrando-se bastante familiarizado com o estilo do patrão. Em 1963, quando Corman realiza Desafiando a morte (The young racers) e necessita de um engenheiro de som, Coppola se apresenta de pronto para o trabalho, mesmo nada sabendo do assunto. Buscou nos livros informações para manusear corretamente a aparelhagem. No mesmo ano atua como produtor associado de Corman em O terror (The terror). Também se responsabiliza pelos diálogos de alguns exemplares da célebre série de horror protagonizada por Vincent Price e baseada em histórias de Edgar Allan Poe.


Roger Corman patrocina a ‑ pode-se dizer ‑ primeira experiência séria de Coppola na direção: Demência 13 (Dementia 13, 1963), rodada na Irlanda ao custo de 20 mil dólares e concluída em três dias. Hoje, é um cult, curiosidade pouco vista e mal lançada, conhecida no Brasil graças à televisão e ao home video.


Na penumbra do poder: Don Vito Corleone (Marlon Brando)


De 1966 em diante, Coppola ganha notoriedade como roteirista, atividade que alterna com voos mais altos na direção. É premiado pelo script do jamais rodado Pilma pilma e escreve os guiões de Essa mulher é proibida (This property is condemned, 1966), de Sidney Pollack, Paris está em chamas? (Paris brule-t-il?, 1966), de René Clément, e Os pecados de todos nós (Reflections in a golden eye, 1967), de John Huston, pelo qual não foi creditado. Em 1967 recebe da Warner financiamento para realizar Agora você é um homem (You're a big boy now), roteiro seu baseado em ideia própria de 1961. Caminhos mal traçados (The rain people, 1969), resultado de outro roteiro pessoal, é concretização tardia de um projeto de 9 anos. Com essa produção de baixo orçamento conquista o Grande Prêmio do Festival de San Sebastian. Entre esses dois títulos conheceu o primeiro fracasso, o musical O caminho do arco-íris (Finian's rainbow, 1968), quase unanimemente considerado como seu pior trabalho. Em 1971 é agraciado com o Oscar de Melhor Roteiro por Patton, rebelde ou herói? (Patton, 1970), de Franklin J. Schaffner. Três anos depois tem o roteiro de O grande Gatsby (The great Gatsby, 1974) totalmente alterado pelo diretor Jack Clayton, a quem Coppola diretamente responsabiliza pelo fracasso da realização.


Quando filmava O caminho do arco-íris fez amizade com George Lucas, recém-saído da universidade. Convenceu a Warner a lhe produzir o primeiro filme — o claustrofóbico e modesto exercício de ficção científica THX-1138 (THX-1138, 1970). Lucas é apenas o primeiro de um grupo de jovens que teve em Coppola uma espécie de mecenas. Os demais: Carroll Ballard, John Korty, Hal Barwood, Willard Huyck, Gloria Katz, John Milius, Matthew Robbins e Martin Scorsese.


Michael Corleone (Al Pacino) e o pai Don Vito Corleone (Marlon Brando)


A gestação de O poderoso chefão começa em 1966. O roteirista Mario Puzzo recebe da Paramount 7,5 mil dólares para transformar em livro a sinopse Mafia, de vinte páginas, que apresentou ao estúdio. O resultado é um campeão de vendas. O sucesso do avantajado volume convence a Paramount das possibilidades comerciais da adaptação. Começam os preparativos, junto com problemas sobre a direção e o protagonista. Um dos entraves a vencer era a própria Máfia. O produtor Albert S. Rudy negociou com os “chefões” e Joseph Colombo, líder da Liga Ítalo-Americana dos Direitos Civis. Acertou-se que os termos "Máfia" e "Cosa Nostra" não seriam mencionados. Notícias duvidosas atestam que mafiosos colaboraram financeiramente com o empreendimento. Pelo visto, não foram negociações tranquilas. Coincidência ou não, na ocasião Joseph Colombo teve os movimentos para sempre inutilizados ao ser baleado em atentado.


Fredo Corleone (John Cazale), inábil e fraco

  
O filme tem ares de tragédia grega. Forças incontroláveis, manipuladas pelo destino ou por circunstâncias históricas se apoderam dos personagens. Os Corleone — grupo familiar ampliado como os de Gilberto Freyre em Casa grande & senzala — formam instituição de muitas ramificações, erguida à sombra de atividades criminosas. Cava espaço em lutas contra o aparelho legal e famílias rivais com as quais se alia ou compete. Lança mão do suborno, da chantagem, cooptação e simples eliminação física de adversários. A história começa em 1945. O chefe Don Vito Corleone está velho, mas em forma. Após anos de sacrifício pretende conferir aura de legalidade e respeitabilidade aos negócios. Planeja a segurança dos seus e a continuidade pacífica da empresa que fundou. Mas esse desejo não depende somente da vontade. Forças contrárias — da lei, do crime ou uma combinação de ambas — são variáveis a controlar. Elementos da própria organização armam perfídias. Sofrerá o desgosto supremo de ver o primogênito e sucessor Sonny (Caan) brutalmente assassinado e a filha Connie (Shire) casada com o animalesco bookmaker Rizzi (Russo), agressor contumaz. O próprio patriarca não consegue se separar dos velhos métodos de luta e convencimento. O filho mais novo, Michael (Pacino) — herói de guerra que deveria ser preservado dos negócios escusos — é, diante da inaptidão e fraqueza de Fredo (Cazale) — o irmão do meio —, lançado no centro das contendas, atraído pela chamado do sangue, em ato de vingança.


Sonny Corleone (James Caan), primogênito e sucessor natural...

....é trucidado a tiros em embocada


As primeiras sequências, exemplares, revelam as contradições da família de Don Vito Corleone. Ao ar livre se desenrola a festa do casamento de Connie — acontecimento de peso abrilhantado por convidados de respeito. Para isso, a família se abre ao social mais amplo em busca da tão almejada respeitabilidade. Mas dos amplos e iluminados jardins do baile — elo dos Corleone com o espaço público das coisas lícitas e permitidas —, a câmera salta para o fechado e pouco permeável recinto privado — o centro de poder e controle. Aí o patriarca recebe cumprimentos pelas núpcias de Connie, consolida pactos que ampliam o raio de ação da organização, combina limites e formas de negociar/atuar com representantes de outras famílias. Tudo é acertado em segredo, na penumbra abafada. Don Corleone fará tudo pelo bem-estar dos seus protegidos e espera, em compensação, receber honras e favores.


Os métodos viscerais de convencimento são revelados com requintes. Um executivo de Hollywood acorda literalmente banhado no sangue da cabeça decepada do próprio cavalo de estimação. É o meio encontrado para força-lo a incluir um protegido dos Corleone — o cantor decadente Johnny Fontane (Martino) — no elenco de nova e promissora produção. A passagem alude ao suposto e nada sutil modo empregado pela Máfia no esforço de forçar a Columbia a reservar para o então decadente Frank Sinatra o papel de Angelo Maggio — que seria de Eli Wallach — em A um passo da eternidade (From here to eternity, 1953), de Fred Zinnemann. O cantor e a companhia, claro, negam qualquer tipo de pressão mais taxativa. Apesar disso, sobram fortes indícios de que a Máfia contribuiu para catapultar a carreira de Sinatra quando esta se encontrava estagnada e no fundo do poço.


A seguir, The godfather se aprofunda no dia-a-dia da família, revelando um universo dominado exclusivamente por ações masculinas, repleto de crimes e vendetas.


Key Adams (Diane Keaton) e Michael Corleone (Al Pacino)


Firme no propósito de se manter afastado do tráfico de drogas, Don Corleone atrai a ira de outros grupos. Entra em guerra com a família de Tataglia (Rendino). Este ordena fracassado atentado contra o personagem vivido por Marlon Brando. Diante do rumo dos eventos, Michael contraria os desejos do pai — que pretendia preservá-lo para um futuro pacífico. Assassina Tataglia e o corrupto chefe de polícia McCluskey (Hayden). Receoso, Don Corleone “exila” o caçula na Sicília, sob forte proteção de aliados locais. Michael permanece na ilha por mais de dois anos. Durante todo esse tempo a namorada americana Key Adams (Keaton) não recebe notícias e sequer é informada de seu paradeiro.


Em compensação, Michael se apaixona por Apollonia (Stefanelli) na tranquilidade de um cenário pastoral. Casam-se. Porém, é devolvido à realidade pelo brutal assassinato de Sonny. Estava pronto para regressar quando um atentado provoca a morte da inocente esposa.


No cenário pastoral do exílio siciliano, Michael Corleone (Al Pacino) contrai núpcias com Apollonia (Simonetta Stefanelli)

  
Com o pai semiafastado da chefia, atuando como conselheiro nos bastidores, Michael — auxiliado pelo irmão adotivo e advogado do clã, Tom Hagem (Duvall) —, assume o controle das organizações Corleone: empresas, família, relações e dependentes. Reencontra Key Adams e consolidam matrimônio. O patriarca morre. Nasce o herdeiro de Michael. A cerimônia de batizado alterna rituais religiosos e profanos. Enquanto o padre abençoa o novo membro do clã, os Corleone eliminam os últimos rivais. O grupo fundado por Don Vito restabelece a hegemonia; Michael é o novo Don. Nesse mundo fechado não há espaço para Key. Ela não será, como esperava, a típica, modelar e participativa esposa de acordo com o figurino do American way of life. Deverá, como outras mulheres da família, limitar a própria atuação ao espaços menores e subalternos reservados às peculiaridades de seu sexo e sangue. Pertence à organização até certo ponto. Prioritariamente, deverá procriar e cuidar dos filhos do novo chefão.


Percebendo-se excluída: Key Adams (Dine Keaton) nos emblemáticos momentos finais O poderoso chefão

  
A destacar o trabalho do maquiador Dick Smith e a trilha musical de Nino Rota. O primeiro transformou Marlon Brando, aos 47 anos, no quase septuagenário Don Vito Corleone. Já havia metamorfoseado Dustin Hoffman no ancião de 120 anos em O Pequeno Grande Homem (Litle Big Man, 1970), de Arthur Penn. Quanto a Rota, não cuidou apenas da música. Suas notas e acordes vigorosos são comentários precisos, organicamente ajustados às cenas e sequências. Traduzem um universo repleto de rituais. Mas, além disso, possuem vida própria, independente das imagens.






Roteiro: Mario Puzzo, Francis Ford Coppola, baseado em novela homônima do primeiro. Ajustes no roteiro: Robert Towne. Direção de fotografia (Technicolor): Gordon Willis. Desenho de produção: Dean Tavoularis. Direção de arte: Warren Clymer. Decoração: Philip Smith. Figurinos: Anna Hill Johnstone. Efeitos especiais: A. D. Flowers, Joe Lombardi, Sass Bedig. Montagem: William Reynolds, Peter Zinner, Marc Laub, Murray Solomon. Música: Nino Rota (The godfather waltz, I have but one heart, The pickup, Connie's wedding, The halls of fear, Sicilian pastorale, Love theme from the godfather, Apollonia, The new godfather, The baptism, The godfather finale). Música adicional: Carmine Coppola. Direção musical: Carmine Coppola, Carlo Savina. Maquiagem: Dick Smith, Philip Rhodes. Produtor associado: Gray Frederickson. Produção de elenco: Fred Roos, Andrea Eastman, Louis DiGiaimo. Consultor de produção: Walter Murch. Penteados: Philip Leto. Supervisão de guarda-roupa: George Newman. Guarda-roupa feminino: Marilyn Putnam. Operador de câmera: Michael Chapman. Produtor de gravação: Christopher Newman. Regravação: Bud Grezbach, Richard Portman. Assistente para o produtor: Gray Chazan. Executivo assistente: Robert S. Mendelsohn. Coordenador de locações: Michael Briggs, Tony Bowers. Pós-produção no estrangeiro: Peter Zinner. Gerente de unidade de produção: Fred Caruso. Assistentes de direção: Fred T. Gallo, Tony Brandt, Stephen F. Kesten (não creditado). Coordenador de unidade de produção: Robert Barth. Serviços de locação: Cinemobile Systems. Gerente de produção na Sicília: Valerio de Paolis. Assistente de direção na Sicília: Tony Brandt. Assistente de direção de arte na Sicília: Samuel Verts. Continuidade: Nancy Hopton. Produção executiva: Robert Evans (não creditado). Gerente de produção da segunda unidade: Ned Kopp (não creditado). Assistente de direção pela Oaktree Productions: Fred T. Gallo. Segundo assistente de direção: Steven P. Skloot (não creditado). Assistente de direção de arte na Sicília: Samuel Verts. Camareiro: William Canfield (não creditado). Carpintaria: Robert Hart (não creditado). Coordenação de construções: Robert Scaife (não creditado). Edição de efeitos de som: Howard Beals (não creditado). Mixagem da Regravação de diálogos: Steve Cook (não creditado). Assistente da edição de som: Pierre Jalbert (não creditado). Operador de microfone: Les Lazarowitz (não creditado). Efeitos especiais pela Oaktree Productions: Sass Bedig, A.D. Flowers, Joe Lombardi. Supervisão de efeitos especiais: Paul J. Lombardi (não creditado). Dublês (não creditados): Joe Bucaro III, Steven Burnett, Harry Daley. Coordenação de dublês: Paul Baxley (não creditado). Operador de câmera adicional: Howard Block (não creditado). Direção de fotografia da segunda unidade: Bill Butler (não creditado). Eletricistas (não creditados): Russell Engels, Ed Kammerer, Robert Royal, Joe Rutledge, Ray Williams. Assistentes de câmera (não creditados): Edward Knott, Anthony R. Palmieri, Ed Quinn, Peter Salim, Tibor Sands, Edward Tonkin, Robert M. Volpe. Robert Ward. Operador geral: Jim Meyerhoff (não creditado). Fotografia de cena: Jack Stager (não creditado). Eletricista-chefe: Dusty Wallace (não creditado). Produção de elenco extra: Riccardo Bertoni (não creditado). Joalheria: Joan Joseff (não creditado). Assistente de montagem: Jack Wheeler (não creditado). Músicos (não creditados): Carl Fortina (acordeon), Tommy Johnson (tuba), Jimmy Maxwell (trompete), Paul Salamunovich (coro), Stephen Salamunovich (soprano), Albert T. Viola (mandolin). Edição musical: John C. Hammell (não creditado). Motoristas (não creditados): Raymond Hartwick, Charles Lazzarro, Edward Venn, Louis Volpe, John Whelan, Ed Wilson, Rocco Derasmo, James Giblin, George Lynch Jr. Consultoria técnica (não creditada): Sonny Grosso, Randy Jurgensen. Técnico da Cinemobile: Johnny E. Jensen (não creditado). Coordenação da produção: Shari Leibowitz (não creditado). Coordenação de veículos: Richard Nelson (não creditado). Publicidade: Howard Newman (não creditado). Amestrador de cavalos: Jasmine Sabu (não creditado). Grupo de adr: Maurice Schell (não creditado). Serviços de locações pela Oaktree Productions: Cinemobile Systems Inc. Seguradora: Fireman's Fund Insurance Co. Tempo de exibição: 171 minutos (175 minutos no original).


(José Eugenio Guimarães,1975; revisto em 1988)

2 comentários:

  1. Eugenio,

    Muito bom conhecer todos estes tópicos de bastidores desta película.

    Estranho um pouco a situação do Brando porque, ainda em 1972 ele fizera O Ultimo Tango em Paris, do Bertolucci, que foi um enorme sucesso. Não deveria portanto, estar em tanta baixa assim.

    Concordo plenamente com o paralelo apresentando-o como o E O Vento Levou para filmes de gangster's, já que o Copolla, mesmo sem crédito algum atirou nesta criação toda sua alma de um futuro grande diretor que, positivamente viria a ser.

    Tudo isso sem por todo o elenco neste bojo, já que ninguém ali escapou de performances surpreendente, ressalvando-se o Duvall e o Pacino, sem esquecer a Keaton e todo seu talento e beleza jovial, e até o pequeno papel do Sterlyng Hayden, que há tempos não o via nas telas.

    Sem duvida um filme que faz jus ao seu grande sucesso, que segue insistente por quase 45 anos e que terminou por gerar uma trilogia com cada uma das peliculas mais interessante que as outras.

    Por certo que a critica francesa desaba muitos elogios no que fazem eles próprio e atiram ao lixo o demais. Não tem sentido nada do que qualquer destes críticos falaram sobre o filme. Chega a soar falso.

    Este filme é perfeito em todos os sentidos. Musica, atuações, direção criativa, cenas sensacionais e tudo o mais.

    Segue há quase 45 anos ainda fornecendo emoções fortes mesmo a quem já o viu mais de 10 ou 20 vezes, como eu e uma filha minha, e vai continuar desta forma por ainda muitas décadas. Dividilmente será uma fita esquecida.

    É a obra Magistral de Gangster's que faltava no cinema.

    jurandir_lima@bol.com.br

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Na ocasião, Brando estava desacreditado mesmo, Jurandir - nos Estados Unidos, bem entendido. Mas gozava de excelente prestígio na Europa. Quanto aos críticos franceses da época, acredito que já tenham se redimido da "rata" que cometeram. Os franceses são os primeiros a exaltar o grande cinema americano e o equívoco cometido com relação a O PODEROSO CHEFÃO, quando de seu lançamento, pode se dever mais ao caráter um tanto inédito da realização. Eles esperavam por uma coisa segundo o modelo clássico do cinema ao qual estavam habituados e viram outra. Acontece. Às vezes o pessoal não tem muito o que dizer. Eu mesmo já escrevi - e publiquei - muita bobagem. Depois, nas revisões a que sempre me obrigo, percebi a gafe que havia cometido e voltei atrás, com a cara mais deslavada do mundo. Hehehehe! Não se trata do filme do Coppola, claro. O PODEROSO CHEFÃO se tornou fundamental para mim desde que o vi pela primeira vez. É o melhor da trilogia.

      Abraços.

      Excluir